O sentido de inveja, para Keppe, é diferente do sentido que o povo normalmente dá para esse termo. Inveja, como diz a origem da palavra em latim (invidere), quer dizer: não ver. Portanto, o entendimento verdadeiro da palavra inveja deve ser retirado da sua origem etimológica – invejoso é o indivíduo “que não quer ver”. Não quer ver o quê? Não quer ver o que é bom, belo e verdadeiro: não quer ver o que é – pois tudo o que é, por si, é bom. A realidade original era somente boa, bela e verdadeira até que o ser humano começou a estragá-la pela inveja, pois o bem do outro, o bem que é exterior a nós, traz a consciência dos nossos males, como uma dialética automática (comparação). Essa consciência desejamos destruir, assim como o feio quer quebrar o espelho que lhe mostra a feiúra; o ser humano quer brilhar sozinho e com isso acaba destruindo não somente a beleza a sua volta como a própria.
Na Trilogia, nós vemos a inveja como a base de todos os problemas psicológicos que dela decorrem e são imediatamente ligados: a teomania (desejo de ser como um deus); a megalomania (ideias de grandeza, que estão englobadas na teomania); o narcisismo (adoração de si mesmo, do próprio corpo, da própria personalidade); a arrogância (achar-se sempre certo, o dono da verdade); a alienação e a inversão, que seriam as mais graves de todas as consequências.
O invejoso é aquele que é contra, que diz “não” para o que ele próprio no fundo mais gosta – o que é bonito, o que é veraz. Essa negação é feita sem que a pessoa o perceba claramente, e ela pode direcionar toda a sua vida para a infelicidade, levada por essa patologia inconscientizada.
Não existe indivíduo que não seja invejoso. Existe aquele que tem maior ou menor consciência de sua inveja, podendo, portanto, discernir, mais ou menos, as causas de suas más escolhas na vida e controlar melhor sua conduta, preservando sua felicidade.
O mesmo podemos dizer dos indivíduos poderosos que, pela inveja inconscientizada, não permitem nem a felicidade do povo e nem de si mesmos, pois também pisam na própria vida e não somente na de seus escravos.
Fomos presenteados com tudo, em abundância, para vivermos na riqueza, na saúde, na descontração, na alegria, na usufruição e na realização; enfim, o Criador queria que todos vivêssemos na felicidade, e nós permitimos que um pequeno grupo de doentes mentais, que detêm todo o poder em suas mãos, roubem-nos o que nos é de direito.
Eles criaram uma sociedade doente e invejosa, com guerras, fome, pobreza, doenças, destruição, um verdadeiro caos no planeta, e ainda se queixam da vida, mas, tudo isso, com a nossa conivência.
Nós acreditamos que o desejo maior na vida é a felicidade. E, o que mais desejamos, é justamente o que mais rejeitamos. Por exemplo: o desejo que muitos têm de mudar de vida, que se viajarem para este ou aquele lugar, se mudarem de país, emprego, situação, namorada, então serão felizes; mas isso acontece devido à inveja e à ingratidão, pois, assim como a pessoa não é grata e feliz com o que tem de bom na vida agora, não se sentirá bem e feliz aonde quer que vá e com o que quer que faça.
Fonte: PACHECO, Cláudia Bernhardt de Souza. ABC da Trilogia Analítica – Psicanálise Integral. São Paulo: Editora Proton, 2014.
Reflexão:
Você percebe que a inveja é basicamente a rejeição da sua riqueza interior?
Comente abaixo.
Todos temos a inveja, pode ser um grau a mais ou menos, aí vai depender da conduta do Ser, da aceitação da consciência, das atitudes da privação do bem (mal), ou seja, negar o que é bom, belo e verdadeiro que está no interior do Ser Humano.
Por exemplo: Quando um colega de trabalho ou de escola sabota, destrói o trabalho de outro colega isto é inveja. Mais se conscientizamos desta patologia, podemos controlar e perceber o erro e não repeti-las.