Após a expulsão do Paraíso, foi colocado um anjo à sua porta, para evitar que Adão e Eva voltassem, comendo a fruta da árvore do conhecimento, recuperando a imortalidade. A ideia de “comer do conhecimento” parece-me idêntica à de conscientizar, isto é, de viver a verdade – porque a aceitação da realidade é o único meio para se realizar.
Rejeitamos aquilo que é, procurando criar uma existência diversa; com esta atitude, caímos no desespero. Porém, no momento em que aceitarmos ser o que somos, imediatamente cessaria tal atribulação, advindo grande paz.
Procuramos sempre construir um entrave entre nós e a realidade (o nosso sustentáculo), acarretando extrema dificuldade de posição, pois nossa existência não é uma questão de opção – e o que recusamos, sempre, é a visão da própria condição de seres humanos, como se não nos fosse adequada. A consciência não é algo que só existe por si; ela tem de ser usada também: aqui, entra o elemento da decisão. Consciência todos temos; mas o seu uso, depende de nossa escolha pessoal.
A grande maioria dos homens se comporta como alguns animais, que eriçam os pelos ao serem tocados – este é o meio de defesa que a natureza usa, para escapar aos perigos; mas o homem age assim, em relação à verdade porque coloca nela todas as suas dificuldades e mentiras.
A descoberta de que a consciência tem conhecimento perfeito da realidade dá-nos a chave para perceber que, somente dentro dela, o ser humano tem condições para se sentir bem – e ela inclui a verdade, o amor e a bondade. E, à medida que nos afastamos desse centro (saudável), sentimo-nos mal caindo naquilo que chamamos de psicopatologia: angústia, fobia, depressão etc..
Se fosse possível aceitar toda a verdade, cairíamos na plena felicidade: à semelhança dos dois prisioneiros, crucificados ao lado de Cristo, o ser humano, pode aceitar ou não sua realidade – e, identicamente, rumar imediatamente para o próprio paraíso interior, ou condenar-se ao eterno desterro. Aliás, o éden terrestre deveria chamar-se de psicológico porque ele está em nosso íntimo e não em alguma região deste planeta ou do espaço.
Fonte: KEPPE, Norberto da Rocha. A Libertação. São Paulo: Editora Proton, 2016.
Reflexão: Você percebe que só é possível se sentir bem ao agir de acordo com a realidade? Comente abaixo.