Assim como os nossos olhos captam as imagens de cabeça para baixo para depois serem automaticamente desinvertidas pelo próprio cérebro, nossa percepção também parece captar a realidade invertidamente e, por um motivo ainda não muito claro (provavelmente, devido à inveja pessoal e, principalmente à social, que influencia muito o indivíduo, desde o nascimento, tanto no sentido de querer destruir a sua felicidade, como no de ensiná-lo a invejar a felicidade alheia). Essa percepção, na maioria das vezes, permanece invertida em nosso íntimo. Isso nos leva a sentir o que é bom como mau e o mal como um bem.
Keppe percebeu em seus clientes que a pessoa busca o vício, a alienação, o perigo, por estar enganada; ela acredita que assim conseguirá se libertar, mesmo que racionalmente pense o contrário.
Dessa forma, notou que o indivíduo agressivo agride os outros porque pensa que a agressão é o melhor meio de conseguir o que quer; o mesmo acontece com o desonesto, o preguiçoso, o delirante, o drogado, o alcoólatra, que acreditam ser a vida alienada mais prazerosa, e que lhe trará mais vantagens.
De outro lado, as pessoas aprendem a identificar o amor com sofrimento, a consciência com restrição, trabalho com sacrifício, honestidade e bondade com deixar-se prejudicar, falar a verdade com agressão etc.
Nós estamos vivendo numa sociedade enganosa, onde todos os valores estão igualmente invertidos, o que obriga todos a se submeterem a uma forma de existência de fantasia, ao contrário do que a realidade humana e social deveria ser. É essa maneira invertida de se captar a realidade que nos levou às neuroses, psicoses, doenças orgânicas, sociais, econômicas, ecológicas etc.
O ser humano não tem percepção clara da calamidade que está ocorrendo consigo, com a humanidade e com o planeta que habitamos. É necessário, portanto, que comecemos a usar da nossa vontade no sentido de perceber nossa inversão e a da sociedade em que vivemos, pois assim poderemos recolocar nossas vidas na posição correta.
E o primeiro grande passo é o de vermos a consciência como a única salvação, e não mais como a nossa inversão a percebe: “aquela vozinha chata, que martela a nossa mente para nos tirar o prazer da vida, e a qual fazemos o possível para esconder.”
Fonte: PACHECO, Cláudia Bernhardt de Souza. ABC da Trilogia Analítica – Psicanálise Integral. São Paulo: Editora Proton, 2014.
Reflexão:
A conscientização da inversão é fundamental para a nossa salvação?
Comente abaixo.
Comments