"A Queda do Homem Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito. E ela perguntou à mulher: “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?” Respondeu a mulher à serpente: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas Deus disse: ‘Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão’”. Disse a serpente à mulher: “Certamente não morrerão! Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal”. Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se.” (Gênesis 3:1-7)
Keppe percebeu que a verdadeira raiz das neuroses e psicoses, diferentemente do que Freud acreditava, é a teomania – o desejo escondido em todos os corações humanos de ser poderoso como um deus (em casos mais graves de psicose, verifica-se claramente o desejo do indivíduo ser mais poderoso do que Deus).
A teomania porém se manifesta sob várias nuances – no sexo masculino, ela aparece mais na forma de megalomania. O homem, na maioria dos casos, quer ser o mais poderoso na sociedade, através do dinheiro, da sua inteligência, da sua realização. Por isso, trabalha mais para o engrandecimento do seu patrimônio, de sua empresa etc., e não para o benefício da sociedade em que vive.
Nas mulheres, a teomania já se manifesta mais sob a forma de narcisismo – ou seja: a adoração de si por si mesma, pelos seus atributos pessoais. A mulher acha que só pelo fato de ser quem é, já está encantando a humanidade (mesmo que não perceba, é assim que pensa, no fundo). Por isso, exigem ser sempre admiradas, amadas, valorizadas, não pelo que realizam, mas pelo que são, e muitas vezes, só pelo seu corpo, como se fossem verdadeiras musas de beleza, ou de grande sensualidade.
A teomania, que é ligada à inveja, é a raiz de todos os males humanos, é a base de todos os demais problemas psicopatológicos, que, ao contrário do que as outras escolas psicológicas afirmam, não são advindos de questões inconscientes, genéticas, orgânicas ou puramente sociais.
Porém, ela pode se apresentar vestida de muitas roupagens diferentes. Por exemplo, a pessoa perfeccionista também sofre desse mal, pois não admite ver defeitos em si e nos outros. Muito intransigentes e fanáticos, os perfeccionistas têm uma aparência de bondade e humildade, mas exercem mais a função de acusadores do que agentes de desenvolvimento social. São aqueles que se deprimem tanto em se ver falhando, que chegam a adoecer; ou aqueles que se acham tão certos e estão sempre prontos a apontar os erros dos outros.
Infelizmente, a sociedade humana é organizada de maneira a dar vazão a todas essas tendências patológicas dos seus componentes, o que acaba por criar um ciclo vicioso de retroalimentação, praticamente sem solução, caso não seja conscientizado: os indivíduos criam sistemas para alimentar sua loucura, e a sociedade enlouquecida ajuda a criar indivíduos mais doentes (notem os leitores, por exemplo, a força que a propaganda tem no sentido de alienar o povo). O poder econômico, o político, o social são frutos da teomania individual, aplicada à estrutura da sociedade. Foram os indivíduos mais teomânicos que criaram leis desonestas para preservar o seu poder. E a própria estrutura social doentia cria novos indivíduos teomânicos.
Fonte: PACHECO, Cláudia Bernhardt de Souza. ABC da Trilogia Analítica - Psicanálise Integral. São Paulo: Editora Proton, 2014.
Reflexão:
A queda do homem e a sua expulsão do Paraíso não é só uma história bíblica ou uma alegoria antiga. É uma história real sobre o que aconteceu e acontece até hoje.
Você percebe que quando o ser humano quer ser um “deus” (teomania) ele recusa a sua essência divina (boa, bela e verdadeira) e causa todos os conflitos?
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