O único contato que poderemos ter é com a verdade (a coisa em si, de que nos falou Kant); estou dizendo que não há relacionamento (verdadeiro) com as pessoas e coisas materiais que nos rodeiam - por este motivo, jamais seremos felizes na vida em que estamos. Não há dúvida que temos relances de grande alegria, de uma felicidade incrível caso restabeleçamos a união perdida com a verdade.
É muito interessante o fato do ser humano ter rejeitado a realidade da criação, tendo armado o seu teatro para representar - e ainda pensar que se constitui numa cobaia do Criador.
O homem acha que desmanchando a sua casa de espetáculos destruir-se-á completamente, não querendo renunciar à ideia de que seja o formador da verdade. Desta maneira, surge a sintomatologia desagradável (angústias, fobias, doenças físicas e desastres sociais), lembrando-o de que está fora do trilho. Não somos seres soltos no espaço, como balões de gás voando ao relento; estamos ligados a uma incrível realidade que, mesmo negada pela vontade, continua aí, determinando e dirigindo tudo.
Seria vantagem o relacionamento com a verdade? Inicialmente, temos de admitir que não é possível um real contato com o que não existe - depois de algum tempo de fantasia, o indivíduo cai num enfado angustiante, que deseja deixar, mas sem se comprometer com a realidade; este é o motivo de seu nervosismo.
Pessoa alguma dirige sua existência pelo que chamamos de razão, mas não a deixamos de usar, conforme nossas conveniências. De um lado, temos contato com a verdade, que tentamos utilizar de acordo com a vontade; de outro, criamos o nosso mundo das ideias, que tentamos viver, achando-o o melhor que existe.
Achamos a verdade inteiramente desinteressante; seu único fito é a realidade - como o ser humano age quase só pelo interesse, evidentemente não consegue se interessar por ela. No momento, porém, que notar o que seja, jamais a deixará novamente.
Fonte: KEPPE, Norberto da Rocha. A Libertação. São Paulo: Editora Proton, 2016.
Reflexão:
Você percebe que estamos vivendo um momento de decisão: a escolha da verdade ou a permanência na ilusão?
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