O capitalismo (que inclui o socialismo, que é o capitalismo do Estado) entrou por uma grande crise, por força de sua própria teoria. Exemplificando: a questão de mais valia incentivou a quantidade em detrimento da qualidade dos produtos - o que importa é ganhar mais dinheiro para aumentar o capital; isto é, o que se convencionou chamar de riqueza seria simplesmente a quantidade de dinheiro recolhida.
A consequência dessa filosofia de vida capitalista é desastrosa:
1) Eliminou a qualidade da existência; o desenvolvimento industrial, científico, artístico, social sofreu uma estagnação. Qualquer país que deseja se desenvolver tem de criar as mesmas indústrias, produzir idênticas mercadorias e conseguir vendê-las no mercado internacional, talvez por um preço menor. A competição se realiza no nível da quantidade e preço, ou seja, vender mais por um valor menor, em detrimento do povo empobrecido, material e psicologicamente (nos bens espirituais). A consequência desse fenômeno é evidente: o capitalista vê seus artigos encalhados, tendo de diminuir a produção, pagar menos aos operários, ou cobrar mais caro. Ele transfere suas fábricas para nações mais atrasadas, priva seu povo do trabalho, e ainda o obriga a comprar produtos mais ordinários - empobrecendo a todos, e a si mesmo, provocando um nivelamento por baixo.
2) Exatamente essa é a segunda e grande consequência: justamente os indivíduos que procuram tanto o capital, estão se descapitalizando cada vez mais. Se não houver uma base que sustente o capital, ele não pode continuar existindo.
3) O apego exagerado ao capital, em detrimento do trabalho, gerou um número incrível de indústrias para produzir os mesmos artigos: a) poluindo a atmosfera, rios, lagos e mares; b) ocupando enormes terrenos desnecessariamente; c) e desviando mão-de-obra para um trabalho sem valor, impedindo o verdadeiro desenvolvimento.
Uma aula de fundamentos de economia poderia dizer o seguinte: - Você tem dinheiro? Então, é um indivíduo rico. Se não tem, é pobre. O mesmo se diga a respeito da nação e de toda a humanidade; o restante é secundário. Uma segunda lição é saber como ser rico, sem que o próximo, ou o próprio país seja pobre - porque um milionário rodeado pela miséria é também miserável, pois está com sua própria vida em risco. E o que proponho é que o homem ganhe o seu dinheiro pelo trabalho, e não pela especulação capitalista, ou pela posição de mando no socialismo.
Estes dois princípios fundamentais criariam um novo regime econômico, com toda uma série de consequências:
a) valorização do homem e de sua ação;
b) abertura da consciência para entender o mundo, a cultura e civilização;
c) enorme desenvolvimento econômico, social e científico;
d) paz na humanidade;
e) realização das aspirações humanas em todos os setores da existência;
f) liberdade verdadeira, no bem, verdade e na estética.
Aliás, se a riqueza não for baseada no trabalho, poderá ruir repentinamente, como tem acontecido periodicamente. A questão mais importante é perceber que a economia chegou a uma nova fase, ou seja, a mudança do fator quantidade para a qualidade dos produtos.
A economia tem de seguir o mesmo desenvolvimento do ser humano; assim como vivemos em casas e temos carros melhores, televisão, máquinas e geladeiras mais sofisticados, nosso destino é criar novos aparelhos voadores, tratamentos médicos e dentários para simplificar a vida. E mais ainda: após satisfazer todos os anseios por bens básicos materiais, o homem finalmente poderá mudar totalmente o sentido da economia - pois terá tudo o que almeja, perdendo a ânsia doentia pelo dinheiro.
Fonte: KEPPE, Norberto da Rocha. Trabalho e Capital. São Paulo: Editora Proton, 1989
Reflexão:
Você percebe que a verdadeira economia deve valorizar e desenvolver o ser humano através do seu trabalho?
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